MÍDIA: Impressos
VEÍCULO: O GLOBO
CATEGORIA: PORTAIS REGIONAIS
ORIGEM: MATÉRIA
TIPO: ESPONTÂNEA
DATA DE PUBLICAÇÃO: 14/07/2023
ENFOQUE:

O censo da superação


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Product: OGlobo PubDate: 14-07-2023 Zone: Nacional Edition: 1


O GLOBO | sexta-feira 14.7.2023


Page: PAGINA C User: Asimon Time: 07-13-2023 21:40 Color: E Opinião | 3


- SEG. Fernando Gabeira Demétrio Magnoli (quinzenal) . Miguel de Almeida (quinzenal) . Edu Lyra (quinzenal). Irapuã Santana (quinzenal) - Washington Olivetto (quinzenal)


- TER Merval Pereira. Carlos Andreazza. QUA Vera Magalhães . Elio Gaspari . Bernardo Mello Franco . Roberto DaMatta (quinzenal) QUI. Merval Pereira. Malu Gaspar


- SEX Vera Magalhães . Flávia Oliveira. Pedro Doria. Bernardo Mello Franco. SÁB. Carlos Alberto Sardenberg Eduardo Affonso . Pablo Ortellado. DOM. Merval Pereira. Dorrit Harazim . Bernardo Mello Franco FLÁVIA OLIVEIRA O blogs.oglobo.globo.com/opiniao flo.colunaGgmail.com Crianças que morrem dijailma de Azevedo Costa enterrou Dijalma de Azevedo Clemente, seu primogênito de 11 anos, ontem, dia em que Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)


completou 33 anos. O ECA é tido como marco legal dos direitos humanos de meninas e meninos brasileiros, um conjunto de normas jurídicas para protegê-los. E bemvindo. É importante. É necessário. Mas um arcabouço legal falha miseravelmente quando a política pública de segurança viola de forma recorrente o direito à vida, primeiro e fundamental.


Antes do menino de Maricá, fuzilado de mãos dadas com a mãe, a caminho da escola, Terezinha enterrara Eduardo de Jesus,


aos 10, em 2015; Bruna, Marcos Vinícius da Silva, aos 14, em 2018; Vanessa, Agatha Félix, aos 8, em 2019; Rafaela, João Pedro Matos Pinto, aos 14, em 2020; Ana Lúcia e Renata, as primas Emily Vitória da Silva, aos 4,


e Rebecca Beatriz Rodrigues Santos, aos 7,


no mesmo ano. Foram todos casos emblemáticos a confirmar que o assassinato de crianças no Rio por ferimento à bala não é crime fortuito, mas costumeiro.


Há algo muito errado numa sociedade que naturaliza a morte de crianças, que não se insurge contra o futuro abatido a tiros,


consequência de um modelo de segurança ancorado no confronto, não na inteligência. Ainda ontem, o Instituto Fogo Cruzado informou que neste ano, que acabou de adentrar o segundo semestre, 101 pessoas foram vítimas de bala perdida na Região Metropolitana do Rio. Dos alvejados, 31


morreram, 70 ficaram feridos. Cinco crianças etrês adolescentes perderam a vida.


Omenino estava de mãos dadas com amãe,


a caminho da escola, quando foi alvejado por umprojetilqueatravessouoseu corpo, perfurou a mochila de uma colega e só parou ao alcançar o carro de um vizinho do conjunto habitacional, em Maricá. Dijalma morreu de uniforme, tal como Marcos Vinícius, atingido durante uma operação da Polícia Civile do Exército no conjunto de favelas da Maré, na capital fluminense.


Famílias e vizinhos de Dijalma acusam policiais militares pelo crime:


— A polícia atirou sem mais nem menos


— disse Adijailma.


A PM informou que “equipes do 12º BPM


(Niterói) realizavam policiamento, quando foram atacadas por criminosos armados”,


nota-padrão nesse tipo de ocorrência. Os agentes levavam microcâmeras nas fardas;


as imagens serão enviadas à Delegacia de Homicídios da região, encarregada do caso.


Tragédias anteriores sugerem que a justiça tarda. E falha. Como escreveu Daniel Sarmento, advogado e professor de Direito Constitucionalna Uerj, emartigono GLOBO, noinício da semana: “A resposta institucional do Estado é pífia. A impunidade impera, absoluta”. O Ministério Público falha na atribuição constitucional de efetuar o controle externo da polícia. E comum que inquéritos referentes a homicídios decorrentes de operações policiais não sejam sequer concluídos. Por isso, não costumam chegar à Justiça. Quando chegam, dificilmente há condenação.


Um ano atrás, o Rio de Janeiro ocupava a quarta posição entre as unidades da Federação com maior número de pessoas mortas pela polícia, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. À frente estavam Amapá,


Sergipe e Goiás. Desde 2020, o Rio está sob restrições impostas pela ADPF das Favelas.


Foi depois da morte do menino João Pedro,


durante uma operação conjunta das polícias Civile Federalno Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, que o STF proibiu ações injustificadas em comunidades durante a pandemia da Covid-19. Além disso, elencou um conjunto de medidas a serem aplicadas pelo governo fluminense, entre as quais um plano de redução de homicídios e instalação de càmeras em viaturas e fardas.


Cinco dias antes de o menino Dijalma se tornar a 15º criança baleada no Grande Rio em 2023 — duas por mês — ,o governador Cláudio Castro celebrava a chegada de 500


fuzis M400 para a Polícia Civil fluminense.


Arma em punho, ele agradeceu ao senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente armamentista, pela destinação dos R$ 3 milhões em emenda orçamentária que permitiramacompra.


Semanas antes, o ministro da Justiça, Flávio Dino, veio ao Rio anunciar R$ 112 milhões em investimentos para combater a violência no estado. Avisou que o governo federal construirá, em parceria com o local,


duas penitenciárias com mil vagas, das quais 200 de segurança máxima.


Dijalma morreu na véspera do aniversário do ECA, a caminho da Escola Municipal Professor Darcy Ribeiro, pesar adicional na tragédia que sofreu. Antropólogo, historiador, escritor e político, morto em 1997, Darcy foi um ativista da alfabetização das crianças, do acesso à educação, da qualidade universitária. Autor de frases memoráveis, alertou:


— Se nossos governantes não fizerem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construírem presídios.


PEDRO DORIA O blogs.oglobo.globo.com/opiniao coluna pedrodoria. com.br Um Twitter misturado com TikTok Threads, a nova rede social da Meta que pretende desbancar o Twitter, já é a propriedade digital que mais rápido ganhou usuários na História. Os números bateram recordes: 10 milhões na primeira madrugada, 30


milhões quando completou um dia —100 milhões em cinco dias. O anterior era do ChatGPT. O Threads chegou aos 100 milhões


60 vezes mais rápido. Isso quer dizer que pode ultrapassar os 360 milhões do Twitter em meses. Mas a dúvida importante persiste: suplantaráa importância do Twitter no debate público? A primeira semana de vida da rede dá pistas de como a Meta pretende chegar lá. O segredo vem de uma terceira rede. O TikTok.


O Twitter eo Facebook passaram a utilizar algoritmos para nos apresentar posts em 2012.


Até lá, as redes sociais mostravam para nós aquilo que os usuários que seguíamos publicavam em ordem cronológica. Quando começamos a ganhar botões de curtir e repostar veio também a inteligência artificial, que escolhia,


dentre os perfis que seguimos, aqueles que despertariam mais interesse. Funcionou. As redes setornaram parte fundamental do cotidiano de milhões. De bilhões, até, em todo o mundo.


Mas o TikTok não é uma rede social. É uma rede de entretenimento —o que distingue uma da outra é a natureza do algoritmo. O app chinês aprende de que tipo de vídeo gostamos e sai mostrando outros conforme aquele padrão. É preciso nas escolhas. A diferença, pois, está no fato de que ignora as contas que seguimos. O TikTok mostra vídeos de toda parte e não se limita à rede social que construímos na plataforma. Sua preocupação não é reforçar os elos entre seguidores. É mostrar o que entretém. É fazer com que esqueçamos o tempo.


O Instagram aprendeu a regular seu algoritmo seguindo as premissas do TikTok. Na rede americana, porém, o usuário tem mais escolha. Na aba principal, o que aparece continuam sendo as publicações de quem escolhemos. Na aba “Explorar” ou quando entramos emum vídeo curto, porém, aí o sistema chinês assume as rédeas. E obviamente a regulagem do algoritmo de TikTok e Instagram é diferente. No app chinês a gente muito rápido cai em material de gosto duvidoso, com pegada sensacionalista. No app americano não é assim.


Pois o Threads está mostrando postagens seguindo essa lógica que o Insta aprendeu com o TikTok. A Meta promete que haverá também, e em breve, uma aba onde veremos apenas aquilo de quem seguimos. Mas a rede parece estar apostando que sua inteligência artificial aprenderá com nossos interesses e produzirá uma seleção de textos mais rica.


O Twitter, diga-se, vem tentando tornar mais TikToktambémasua rede. Eéa provade que fazer isso não é trivial. Não falta gente se queixando de que a rede anda desinteressante.


Qual o efeito de um algoritmo assim no debate público? Depende justamente dessa calibragem. O que tornou o Threads Twitter uma rede de cancejáéa lamentos contínuos e diáripropriedade os, na qual os radicais se sodigital que bressaem a moderados, foi maisrápido | em grande parte efeito do ganhou algoritmo. Com otempo, as usuários pessoas se treinaram para na História escrever aquilo que ganhava muito alcance: violência. Repulsa a toda forma de dissenso. Dogmatização da política.


Talvez uma rede voltada para texto que comece do zero seja diferente. Uma rede que nos tira das bolhas que nós próprios criamos ao listar quem desejamos seguir. Talvez. Não falta quem esteja manifestando surpresa ao encontrar, numa rede social, algo que anda tão em falta nas outras. Cordialidade.


Averdade é que o histórico da Meta com o Facebook não é promissor. Mas eles conhecematecnologia e têm anos de experiência acumulada.


A ARTIGO O Censo da superação CIMAR AZEREDO tim AS 87 anos, o IBGE se consolidou como provedor de dados e referência de informações e transformações no Brasil —e se superouno dia 28 de junho,


no Museu do Amanhã, no Rio, onde iniciou uma jornada histórica de divulgações do Censo Demográfico. Os primeiros —e os vindouros — resultados permitem afirmar que seu banco de dados ficou maior, mais rico e mais relevante, a serviço do país. Se o IBGE já oferecia visão completa e atual do país, agora a visão ficou mais nítida. O Censo se estabelece como fonte confiável para o conhecimento das condições de vida da população. É o Censo que informa quantos somos, onde vivemos, como vivemos, de que precisamos. Produto do esforço hercúleo de uma legião de recenseadores e servidores.


Pela primeira vez foram capturadas as coordenadas de GPS de todos os domicílios urbanos e rurais. O Censo colocou no mapa idade, o sexo e a cor do Brasil.


Os indígenas, quilombolas e residentes em aglomerados. As classes de renda. O Brasil que sabe ler e escrever (e o que deveria saber). O Brasil que frequenta escola (e o que precisa frequentar). O Brasil que trabalha (e o que quer trabalhar).


O Brasil das casas que têm banheiro, esgoto, água encanada (e onde faltam serviços essenciais). O Brasil que tem fé (eo sem religião). E o Brasil das pessoas com deficiência. Também pela primeira vez pessoas diagnosticadas com o espectro autista estarão no mapa.


Tudo isso só foi possível porque a sociedade — em imensa maioria — abriu as portas parao Censo. O IBGE agradece às famílias que receberam os recenseadores e supervisores, bem como a todos os servidores que doaram dedicação ao Censo. Também agradece o apoio de vários ministérios, em especial o do Planejamento. Merecem destaque a Comissão Consultiva do Censo e o Grupo de Trabalho de EspeciAssim | alistas. As instituicomo numa | ções nacionais e incompetição há ternacionais que os que ganhame franquearam ao insos que perdem, — tituto estímulos mono Censoháos raise confiança mequecrescemeos todológica. E a imque diminuem | prensa, que reportou com crítica e honestidade os muitos desafios — agravados nestes tempos de escassez de recursos e excesso de desinformação.


Podem-se levantar questões pontuais. No entanto não se pode duvidar da operação técnica e tecnológica do Censo. Seria como duvidar das urnas eletrônicas. Não é hora de negacionismo censitário. É preciso entender e aceitar: assim como numa competição há os que ganham e os que perdem, no Censo há os que crescem e os que diminuem.


Não tem como agradar ao mesmo tempo a todos os que perdem ou que mantêm faixano Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Até porque as regras e os parâmetros do FPM não são definidos pelo IBGE.


A missão do instituto — verbalizada diariamente com orgulho pelos funcionários —éretratar o Brasilcominformações necessárias ao conhecimento de sua realidade e ao exercício da cidadania. Sob o manto deste Censo/Senso de transparência e superação —


pautado em ciência, e não em narrativa —é possível concluir que o IBGE honrou sua reputação quase secular.


Com o Censo, ao revelar o verdadeiro tamanho do Brasil, o instituto reafirmao seu próprio tamanho.


A N. da Bernardo Mello Franco voltará a escrever em agosto Cimar Azeredo é presidente substituto do IBGE Ocultar
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